1937-2011 O PAD. DANIEL SERRA FEZ A SUA PASSAGEM HOJE – SANTA MISSA EM SEU HONOR
Daniel Arcelino Serra
27.03.1937 — 19.10.2011
Por Juarez Duarte Bomfim
Daniel Arcelino Serra foi um dos três sobrinhos que o Mestre Irineu Serra trouxe consigo da sua viagem ao saudoso Maranhão (1957-1958) para rever os seus, após mais de quatro décadas de ausência.
Equiô, Equiô, Equiô
Equiô que me chamaram
Eu vim beirando a terra
Eu vim beirando o mar
Neste hino Raimundo Irineu Serra canta toda a saudade que sentia da sua mãe, dona Joana d'Assunção Serra:
Saudade, saudade
Saudade de Mamãe
E era recíproca e tão grande a dor da ausência que dona Joana tinha do seu filho Irineu que, contam, em alguns finais de tarde ela fazia bolo de milho – o preferido dele – esperando por sua volta.
Talvez antevendo que não a encontraria mais em matéria, trinta anos antes ele cantara:
A tua imagem linda
É meu encanto, enfim
Neste mundo e no outro
Vós se alembrai de mim
Mas voltando a Daniel Serra... o surpreende e encanta a forma efusiva e carinhosa com a qual o seu tio Irineu Serra é recebido de volta por sua irmandade em festa: "parecia que vinha chegando uma grande autoridade" - relata. De Daniel ouvi essa belíssima história que conto a seguir:
No dia 13 de fevereiro de 1958 o Mestre Raimundo Irineu Serra regressa a Rio Branco, depois de uma visita à sua terra natal, São Vicente Ferrer, no Maranhão, da qual se ausentara “longos e sofridos 45 anos”, e a qual retornou para rever os seus familiares.
Quando chegou de sua longuíssima viagem de navio, beirando a terra, beirando o mar, acompanhado de seus três sobrinhos que trouxera junto com ele, a irmandade o esperava reunida no salão da Sede, e lá, com a jovem e pequenina Percília à frente, entoa o
Traí, traí, traí, tráááá.
Traí, traí, traí, tráááá.
Tráááá, tráááá...
Com essa sensível e tocante homenagem a sua gente festejava o retorno do padrinho Irineu – eles que pela primeira vez haviam experimentado a sua ausência - e saudavam o seu regresso às terras do Alto Santo.
Chamo e sei, chamo e sei
Quem te mandou
Te recebo, te recebo
Te recebo é com amor
Dessa maneira, ao som triunfante das cornetas/trombetas/clarins, que antes já haviam proclamado a chegada do centésimo hino do Mestre Imperador, agora anunciavam a chegada do humilde homem do povo, Raimundo Irineu Serra, por sua irmandade em festa.
E após o terceiro dia de festejos, o jovem Daniel pensa consigo mesmo, e nos conta para a nossa diversão: "eu comecei a pensar... esse povo não trabalha não? Só festeja!"
Felizardo é aquele que tem o privilégio da convivência com o Mestre, pois o seu cotidiano será sempre de festa, será sempre feliz:
Certa vez perguntaram a Jesus:
— Por que jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, e não jejuam os seus discípulos?
E Jesus disse-lhes:
— Podem porventura os filhos das bodas jejuar enquanto está com eles o esposo? Enquanto têm consigo o esposo, não podem jejuar.
Jesus se compara ao esposo em bodas, que a festeja junto com os seus amigos. A festa da aliança de Deus com os homens, que enviou o seu Filho para nos salvar.
Daniel logo se destaca como um grande colaborador do Mestre Irineu, nos plantios, na labuta com o gado... e também na Doutrina, pois com o tempo ele se torna o Comandante Geral do Salão, função que exercerá por longos anos, mesmo depois da partida do nosso Mestre para a vida espiritual.
Daniel Arcelino Serra se casa com uma jovem seguidora da Doutrina, dona Otília, com a qual tem uma filha, Maria do Carmo, que junto com o seu esposo Émerson lhes dão três netos: Gabriel Matheus, Gabriel Lucas e Giovana.
Do menino Lucas (na época com sete anos de idade) certa vez, na varanda da confortável casa do amigo Tufi Amim, lá na Vila Irineu Serra, ouvi a seguinte pergunta, dirigida ao sr. Ladislau Nogueira, presidente do CICLUJUR:
— Quem é Juramidã?
Interrogando os adultos sobre a verdadeira identidade do seu tio-avô.
E o amigo Ladi pressurosamente respondeu:
— Juramidã é o nome do Mestre Irineu no Astral Superior.
Daniel Serra levou a sua mãe, dona Cota (Maria Matos), irmã do Mestre, para conhecer as terras sagradas do Alto Santo (Rio Branco-Acre) e esta lá permaneceu residindo. Nos é contado que, em visitas diárias ao túmulo do Mestre, dona Cota entrava em longas conversações com ele, o Mestre Irineu. Quem passava pela estrada em frente ao mausoleu do Mestre nos finais de tarde a encontrava em animada conversação com o invisível...
Mas Daniel Arcelino Serra sempre acalentou um sonho: voltar a residir no seu querido Maranhão, perto das ondas verdes do mar...
Com a sua aposentadoria e também da sua esposa, dona Otilia, ele enfim reuniu as condições favoráveis a isso. Porém uma missão lhe foi dada pelo seu tio e mestre, que com Daniel se comunica em sonho, quando o espírito se depreende dos limites da matéria e pode viajar pelo mundo espiritual.
A missão que lhe foi concedida por Mestre Raimundo Irineu Serra foi de replantar a Santa Doutrina do Nosso Senhor Jesus Cristo — a Doutrina do Santo Daime — na terra natal do Mestre, o Estado do Maranhão, e apresentá-la para os seus conterrâneos, parentes e familiares.
E Daniel não esteve só nesta missão. Além da sua própria família, teve a seu lado toda uma irmandade já firmada e que cresce a cada dia. Em fevereiro de 2008 começou a construção do Centro de Iluminação Cristã Estrela Brilhante Raimundo Irineu Serra (Cicebris), http://www.estrelabrilhante.org/ , aberto a receber todos os irmãos que chegam em busca da Doutrina do Velho Juramidã.
Na madrugada de quarta-feira, 19 de outubro de 2011, o irmão amigo Daniel Serra fez a sua passagem deste mundo à eternidade, deste plano para a vida espiritual. Essas poderiam ter sido as suas últimas palavras, repetindo o Apósstolo Paulo: “combati o bom combate terminei a carreira guardei a fé”.
Muito obrigado, Amigo Daniel, por termos tido a honra e o privilégio da vossa amizade. Que Deus o ilumine e o Nosso Mestre lhe guie.
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Juarez Duarte Bomfim, sociólogo e doutor em Geografia Humana, é professor universitário na Bahia.
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